Complexo paterno e complexo materno

Verena Kast produziu um livro interessante sobre complexos maternos e paternos, uma das referências quando se trata de falar sobre esses complexos que nos habitam desde o momento que nascemos. Como sempre tive uma certa dificuldade em entender o que cada complexo atuante produz na gente mesmo fiz um esquema para ajudar, é um resumão do livro em que podemos nos reconhecer e pensar sobre nossos aspectos da infância.

Um fator importante é que ela vai descrever esses complexos atuantes quando dão problemas no desenvolvimento da pessoa, quando invadem a consciência e atuam sem que possamos ter a noção de que estamos naquele momento vivendo a atmosfera da infância que não superamos em algum ponto do nosso desenvolvimento.

 

COMPLEXO MATERNO POSITIVO

Complexo materno positivo que não se desligou da mãe no tempo certo promove algumas características em homens e mulheres:

HOMEM: O homem tem o sentimento de ser especial para o mundo, o mundo precisa se adaptar para receber tamanho presente que é esse ser humano incrível. E normalmente são incríveis mesmo, dotados de grande talento e sensibilidade acabam percebendo o mundo com a mesma atmosfera que a mãe produzia na vida deles, possuem a expectativa de que a vida, o mundo e as pessoas o recebam como uma mãe doadora de tudo, que nutre e o admira.

  • A solução para deixar esse complexo é assumir o lugar de herói lutando com aspectos sombrios da relação mãe e filho, normalmente esses homens possuem muita energia acumulada por terem sido “alimentados” pela mãe durante muitos anos, a partir da agressividade com o mundo podem deixar o complexo materno.

MULHER: Na mulher a atmosfera é diferente devido ao fato delas se identificarem muito com os aspectos que a mãe constela durante a relação e isso ser bem aceito socialmente no mundo do feminino. O fato delas não apresentarem uma identidade como mulher não compromete muito seu desenvolvimento. Elas simplesmente seguem o plano da mãe, o mundo tem muito a oferecer a elas, a vida é sempre muito rica, são presas nessa atmosfera materna e identificadas com a mãe. O espaço materno é transferido com muita facilidade para o espaço de vida como tal.

  • Por outro lado, a mulher que possui a riqueza dentro de si por ter sido criada por uma mãe que a superprotegeu tem que perceber seu lado sombrio, projetando sempre no mundo o seu lado ruim, se surpreendem quando encontram mulheres más, sem se darem conta da própria maldade dentro de si mesmas. O importante neste momento é elas internalizarem o aspecto sombrio da personalidade delas para em seguida lidar com aspectos do complexo paterno, há duas possibilidades quando elas são dominadas por esse complexo materno positivo ou uma idealização do masculino ou a desvalorização dependendo do aspecto de animus que está na mãe ou a proximidade da sombra na consciência.

COMPLEXO PATERNO POSITIVO

 

Complexo paterno positivo que não se desligou do pai no tempo certo promove algumas características em homens e mulheres:

HOMENS: São homens normalmente bem sucedidos e propensos a se adaptarem ao mundo, não conhecem seus próprios medos e entram normalmente em crise quando as coisas fogem do próprio controle, a criatividade e o contato com o feminino são sufocados devido a ligação com o ambiente paterno. 

“pode-se perceber uma pressão constante por desempenho” (p.132).

Não possuem autenticidade porque tem que corresponder a admiração do pai, ao mesmo tempo quando esse pai não pode mais admirá-los fica preso na possibilidade de admiração de outros homens ao redor.


  • Homens com complexo paterno originalmente positivos precisam aprender a relativizar a vida, compreender que não se deve generalizar os eventos, portanto não tratar tudo com a mesma regra e sim se adaptar ao meio de modo que consigam considerar a parte emocional da vida.

MULHERES: Quando não se desligam na idade certa criam aspectos dependentes dos homens para tudo, a atmosfera filhinha do papai. As mulheres tomadas por esse aspecto satisfazem muito bem convenções, se adaptam aos desejos dos homens que acaba possuindo relacionamento, rivalizam com todas as mulheres ao redor, respondendo aos desejos do homem que tem relação. Fora do campo relacional elas conseguem ser independentes e inovadoras, porém as amigas não tem muita relevância para ela, são apenas colegas ao qual ela não faz muita questão da presença. 

“O bom sentimento de auto-estima depende da admiração dos homens” (p.139).

Aprenderam a ser conduzidas e não a se tornarem independentes frente as responsabilidades, quando se deparam com ter que conduzir passam a se sentir vazias e sem muito interesse no mundo, e o que aparece constantemente é o medo. A filhinha do papai acaba não tendo medo algum devido ao pai que sempre a conduziu ainda ser o super herói, quando o medo aparece ela precisa de alguém para a conduzir e garantir que ela está no caminho certo.

“identificada com o lado de pai de seu complexo paterno, ela geralmente dá a impressão de ter um complexo do eu extraordinariamente bem estruturado, de ser sensata, forte. E geralmente ela é assim no trato com a vida “externa”, mas não no trato com o próprio desenvolvimento.” (KAST, Verena, 1997, p.140)

A identidade dela é fake, normalmente ela pega emprestado a identidade do pai e do complexo paterno. Precisam fazer algo para conquistar o amor do outro, porém tem esperanças desse amor acontecer de alguma forma, mal sabem elas que o amor acontece sem que elas precisem se esforçar.

  • A saída para esse complexo é o contato com outras mulheres, com a mãe e amigas em uma relação intima e mais profunda, a fim de se libertar das exigências masculinas.

COMPLEXO MATERNO NEGATIVO

HOMENS: Possuem uma simbiose com a mãe que em geral não garantiu o sentimento de existência do filho, mães depressivas ou pouco protetoras, sentimento de “abandono” do filho em que este tem que se virar sozinho. Ocorre em geral uma transferência desse aspecto que tem com a mãe na esposa a qual mantém uma relação semelhante de mãe-filho, porém mãe negativa que não oferece eroticidade a relação.

MULHERES: Complexo materno originalmente negativo nas mulheres não garante a existência, existe um clima de medo e desconfiança que vêm da origem com a mãe ou atmosfera de cuidado do passado, elas entendem que se deve lutar para obter o sentimento de sentir-se pertencente. Arrumam muitas estratégias para conseguir o direito a existência. Elas normalmente acabam cuidando dos outros como mães e acabam se excedendo nesse aspecto, não é de todo ruim desde que ela conheça os limites desse cuidado.

As exigências que essa pessoa faz de si mesma para “não” alcançar o amor desejado são enormes. Tem sempre a impressão de dar muito mais que recebe apesar de não demonstrar isso às outras pessoas, é faminta por não ter recebido nutrição o suficiente quando pequena. Nunca se trata de fazer algo ou desempenhar algo e sim conquistar um lugar no mundo, um lugar de existência.

  • São pessoas que se consideram ruins em um mundo mais ruim ainda, estão sempre esperando a benção da mãe e que a mãe reconheça que errou quando desvalorizou o filho(a).

  • Apresentam em geral problemas psicossomáticos, e problemas bem razoáveis de autoestima, se sentem no fundo culpadas pela mãe de certo modo não aceitá-las. A relação com mulheres positivas é primordial para esse aspecto se modificar internamente, elas mesmas precisam dar-se o direito a existência sem que peçam autorização para isso.

COMPLEXO PATERNO NEGATIVO

HOMENS: Vive como um fracasso em que o pai sempre o supera e é o melhor, o pai não garante sua existência e vira um rival, porém as leis paternas sempre prevalecem e o filho se sente um nada frente a isso. 

As leis criadas pelo pai e o distanciamento tornam o filho solitário em suas leis paternas e próprias somente para o filho. Ao mesmo tempo isolado do mundo paterno e ao redor com vários homens livres dessas leis ditadas pelo pai para expulsá-lo do campo do masculino que o pai pertence e ele não. Uma excessiva exigência faz com que esses homens sempre fracassem em seus objetivos inalcançáveis e se sintam como na infância derrotados por esse pai. 

“Atrás dessa alta exigência também se oculta, suplementarmente, o desejo de ser como o pai, de poder estabelecer uma experiência-do-nós e de finalmente receber, com isso, a benção paterna.” (P.184)

O filho não é liberto para a vida pelo pai, fica preso na ditadura paterna. A solução para esse tipo de complexo que toma o homem é deixar a rivalidade, e entrar em contato com aspectos vitais, espaços esse de aspecto anima.

MULHERES: Elas vivem em alta exigência buscando a aprovação do pai que nunca a reconhece, a diferença do complexo paterno nos homens é que quando ela abre mão da exigência paterna ela não perde sua identidade ela simplesmente tem o aspecto ainda do feminino para se estabelecerem na vida.

Estão sempre sentindo-se uma porcaria e exigem muito de si mesmas.

Verena Kast (1997) afirma que o mais difícil é livrar-se de uma ideia e não de figuras reais, pais reais são sempre mais fáceis de lidar, complexos são mais difíceis porque são ideias criadas desde a infância e que se engendram na psique de uma forma que o que nos resta é perceber esses complexos e tentar identificar quando eles estão em ação seja em frases de desvalorização ou em hiper exigências e modo de atuação no mundo do trabalho e relacionamentos.

Perceber se as frases chaves que usamos vem de pai de mãe ou de nós mesmos é um processo moroso, mas que pode proporcionar a experiência de autenticidade.

Esse resumo é mais para nos orientarmos a respeito do clima que vivemos na infância, as imagens que trazemos sobre nosso pai e nossa mãe, assim como imagens de cuidado e desempenho são a chave para entendermos o que nos toma, quais complexos que fazem parte da nossa dinâmica atuante. Acredito que contribui um pouco para pensarmos em aspectos que tem mais a ver com nossas percepções sobre o mundo do que a respeito de nossas figuras parentais que no fundo não tem nada a ver com a realidade.

Referência Bibliográfica

KAST, Verena. Pais e filhas – Mães e filhos: caminhos para a auto-identidade a partir dos complexos materno e paterno. São Paulo: Edições Loyola, 1997. 

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *