O que são complexos?

Não foi Jung que criou o termo “complexo”, esse termo já era utilizado por outros profissionais na época, a novidade que Jung trouxe foi a realização testes empíricos que tornavam os complexos “visíveis” a medida que mostravam acentuações emocionais diante de determinada palavra. No livro “Estudos experimentais” Vol. 2 das obras completas ele relata diversos testes com palavras e solicitava aos pesquisados associações referentes a determinadas palavras, ele percebia que em algumas situações ocorria a demora de respostas assim como palavras repetidas, alterações de memória e reações acentuadas em determinados agrupamentos de palavras. Jung realizou inclusive esse teste em pessoas da mesma família, apresentando agrupamentos de reações semelhantes para mãe e filha por exemplo. Assim Jacobi (1995) diz que ele denominou e explicou os complexos como “agrupamentos de ideias de acento emocional no inconsciente”.

Afinal, como que funcionam os complexos? Complexos são núcleos energéticos que ficam aglutinando energia dentro do inconsciente, funcionam como uma imagem que possui um imã que vai atraindo memórias afetivas a ponto de se tornar tão carregadas que invadem a consciência. Verena Kast (1997, p. 31) define que:

“complexos são núcleos afetivos de personalidade, provocados por um embate doloroso ou significativo do indivíduo com uma demanda ou um acontecimento no meio ambiente, acontecimento para o qual ele não está preparado.”

Essa aglutinação energética em torno de uma imagem pode ficar no inconsciente por toda uma vida, entretanto a medida que você vai tendo contato com experiências afetivas que vão sendo atraídas por esse “imã” (imagem) esse núcleo energético passa a colorir a sua consciência a ponto de você enxergar a vida a partir do óculos que esse complexo pintou. Por exemplo, uma pessoa com complexo de inferioridade que ao longo da vida foi obtendo muitas vivências que foram aglutinadas no seu inconsciente passa a vivenciar os eventos da vida colorido por esse aspecto, portanto aumentando ainda mais esse complexo. Assim, ela passa a enxergar que muitas pessoas estão a inferiorizando, até mesmo quando não há a intenção do outro em realizar tal feito.

“os complexos surgem da interação do bebê, da criança com as pessoas de seu relacionamento. E a primeira infância é naturalmente uma situação marcante especialmente sensível para o surgimento dos complexos; contudo, os complexos podem surgir a qualquer momento, enquanto vivemos.” (Verena Kast, 1997, p.32)

O maior problema de um complexo é que a medida que ele vai se tornando maior esse colorido não é perceptível, você passa a enxergar o mundo de uma maneira e não consegue relativizar o que vê, acaba contaminado sem nem perceber, e o pior é que o complexo destoa tanto que os outros, muitas vezes veem, mas você não.

E qual a possibilidade de se livrar dos complexos?

“Hoje em dia cada qual sabe que temos complexos, mas que os complexos nos têm é menos conhecido” (JACOBI, 1995)

Nenhuma, o que podemos é conhecê-los e ter maior possibilidade de controlar nossos atos quando estamos movidos por ele. “Contudo devemos constatar que, por meio de uma dissolução parcial dos complexos, mais recordações se libertam e se torna possível um maior acesso a histórias particulares da vida”. (Verena Kast, 1997, p. 32)

O comentário de outras pessoas sobre você, um processo minucioso de análise e mais auto percepção sobre os seus afetos podem te levar a conhecer sobre seus complexos ativos. O perigo do complexo é ser dominado por ele e perder totalmente o controle de suas ações, sendo movido por ele e não mais se identificar com o que você acredita ser você, aquela famosa frase “não era eu” é uma pista pra te levar ao complexo que te mobiliza a ponto de você perder pessoas e sua própria percepção sobre si mesmo.

Referências:

JACOBI, Jolande. Complexo, arquétipo, símbolo na psicologia de C. G. Jung. São Paulo: Cultrix, 1995.
KAST, Verena. Pais e Filhas – Mães e Filhos: caminhos para a auto-identidade a partir dos complexos materno e paterno. São Paulo: Edições Loyola, 1997.

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